Um centímetro de solo pode levar dez, cem ou até mil anos para ser formado. Mas, se o uso não for correto e ele ficar desprotegido, o resultado do trabalho natural de milhares de anos pode se perder. “A erosão é a maior inimiga do solo. Se o manejo não for correto, podemos perder o que levou até um milênio para se formar. Em uma chuva, se perdem dois, três centímetros, sem falar nas voçorocas que chegam a 30 centímetros do solo”, comenta o engenheiro agrônomo Vicente Fin, chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Venâncio Aires.

 

O uso excessivo do solo, deixando ele sem cobertura, é o principal responsável pela erosão, pois permite que a terra seja facilmente levada pela chuva. “Quando o solo está nu, a gota de chuva bate na terra, respinga e desagrega o solo em partículas menores, que são carregadas, causando a erosão. Por isso é tão importante proteger o solo, para que a água consiga infiltrar”, explica a coordenadora do curso de Agronomia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), professora Priscila Pacheco.

E é justamente na superfície, que acaba sendo carregada pela água, que está a maior concentração de nutrientes do solo. “O maior percentual de vida do solo está nessa camada superficial”, observa Priscila.

Um dos impactos disso é a baixa produtividade e qualidade na lavoura. “As ações sobre o solo podem exaurir, torná-lo deserto, sem potencial de produção de alimentos”, comenta Fin. “A planta coloca tanta energia em produzir raízes, em busca de nutrientes ou de água, que a qualidade e o tamanho da planta são prejudicados”, explica Priscila, que é mestre em Ciência do Solo.

Ela também observa que os prejuízos vão além, uma vez que fertilizantes que foram aplicados na lavoura acabam sendo carregados junto com a camada superficial do solo. “Se perde dinheiro quando o solo é carregado pela chuva. Ainda há o impacto na qualidade da água, pois esse solo com todos os produtos da lavoura acaba chegando aos cursos d’água”, complementa.

Saiba mais

• Neste sábado, 15 de abril, celebra-se o Dia Nacional da Conservação do Solo.

• O uso intensivo de maquinário e o excesso de peso de animais estão entre os fatores que contribuem para a compactação do solo.

“Um solo bem manejado resiste muito mais ao período de estiagem. Solo é como uma caixa d´água que armazena a água para a planta. Para isso, é muito importante que a superfície esteja protegida e permita que a água infiltre na terra.” PRISCILA PACHECO MARIANI – Mestre em Ciência do Solo e coordenadora do curso de Agronomia da Unisc

Melhoria na produção de tabaco, com a adubação verde

O agricultor Lauro Vicente Müller, 62 anos, realiza a adubação verde nas lavouras de tabaco pelo quarto ano consecutivo. Nas safras passadas, utilizou apenas a crotalária e, neste ano, apostou em um mix de crotalária e milheto. “O resultado tem sido muito bom para a recuperação do solo e na qualidade do fumo”, afirma o produtor rural, que é fumicultor há mais de três décadas. Ele também destaca que, com a prática, foi possível diminuir o uso de adubo químico. “Hoje posso usar metade do que usava antes”, comenta.

 

Müller começou a fazer a adubação verde depois de perceber que a terra onde eram plantados tabaco e milho na resteva já não fornecia às plantas todos os nutrientes que precisavam para se desenvolver. “Eu tinha um baita fumo na lavoura, mas um problema quando chegava no galpão, pois era sem peso e qualidade”, relata.

A análise na lavoura apontou um desequilíbrio do solo, com excesso de adubação química. “A análise mostrou que teria que reduzir essa adubação. Não adianta só adubar. É tudo uma cadeia, uma ordem que tem que ser seguida, e a adubação verde protege o solo”, comenta Müller.

Com orientação da Emater, ele começou a utilizar a cobertura verde na entressafra do tabaco. De acordo com o agricultor, a crotalária gera uma quantidade expressiva de matéria orgânica para o solo, permanecendo bastante tempo na terra. Uma das variedades atinge cerca de três metros. Para esta safra, ele investiu em torno de R$ 1,5 mil no mix de sementes de crotalária e milheto, para as lavouras onde serão plantados 40 mil pés de tabaco. “É um investimento a mais, mas que tem um retorno significativo”, garante.

Programa de incentivo em Mato Leitão

  • Em Mato Leitão, a Prefeitura mantém desde 1993, um ano após a emancipação político-administrativa do município, um programa de incentivo à adubação verde. Conforme a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, ao longo dos anos essa iniciativa foi reformulada e a mais recente atualização ocorreu neste ano.
  • Pode ser beneficiado com o projeto todo agricultor que teve produção no ano anterior. O produtor rural recebe como incentivo o subsídio por parte da Municipalidade de 50% dos produtos usados na adubação verde, além de poder fazer o pagamento do valor até o dia 31 de março do ano seguinte.
  • Neste ano, 103 produtores serão beneficiados pela iniciativa. Serão distribuídos 229 sacos de aveia, 178 sacos de azevém, 336 quilos de formicida e 13 quilos de ervilhaca.

“O solo nunca pode ficar descoberto”

Para garantir a conservação do solo e evitar o impacto negativo na produção agrícola, é preciso proteger a superfície. Isso pode ser feito por meio de plantas de cobertura, adubação verde e plantio sobre palhada. “O solo nunca pode ficar descoberto. Sempre que colher, é preciso introduzir espécies para cobertura vegetal”, orienta Vicente Fin.

 

A professora do curso de Agronomia da Unisc, Priscila Pacheco Mariani, esclarece que a superfície protegida reduz o impacto das gotas da chuva e a facilita a infiltração da água. “Ela escorre mais devagar e tem mais tempo de se infiltrar no solo. Por isso, o indicado é o mínimo de intervalo possível do solo descoberto”, pontua a mestre em Ciência do Solo.

Além de contribuir para a infiltração da água no solo e a proteção da superfície, a adubação verde, com uso de espécies gramíneas e leguminosas tem outras vantagens. Entre as plantas utilizadas estão azevém, aveia, tremoço, avica, crotalária, milheto e sorgo. Elas buscam nutrientes em camadas mais profundas do solo, o que faz com que as raízes se espalhem. “As raízes lá embaixo ajudam a armazenar a água. Depois que apodrecem, se transformam em matéria orgânica”, informa Priscila.

O chefe da Emater argumenta que a recomposição da matéria orgânica é fundamental para garantir um solo de qualidade. Ele cita que 70% das análises de solo realizadas em Venâncio Aires mostram que a matéria orgânica está abaixo 1%. O mínimo seria de 2,5%, sendo 5% o ideal.

“Para recompor a mínima quantidade por ano, temos que fazer palhada acima de dez toneladas por hectare por ano. No tabaco, as folhas são colhidas e sobra o talo, que gera até três toneladas, mas ainda faltam sete. Portanto, temos que plantar o milho depois do tabaco e não fazer silagem, porque se não está se removendo a matéria orgânica”, orienta Fin.

Ele também lembra que leguminosas são importantes pela incorporação de nitrogênio no solo. “Em um ciclo, elas incorporam até 120 quilos de nitrogênio, o equivale a 200 quilos de ureia”, compara. “O produtor tem que ter consciência de que há outros produtos além de agroquímicos que podem ser utilizados. Entre eles, o calcário, para correção de pH, a adição de fosfatos naturais, que é uma boa forma de corrigir a deficiência de fósforo, e a matéria orgânica que vai melhorar a condição de nitrogênio”, exemplifica.

 

Reflexos

Segundo a professora de Agronomia da Unisc em geral, leva-se de dois a três anos, a partir da adoção de práticas conservacionistas, para que se consiga ter um efeito superior na lavoura. A médio e longo prazo, há redução de custos com fertilizantes e outros produtos. “Se consegue uma melhoria química, física e biológica do solo, que são os três pilares para a qualidade do solo.”

“A maior parte dos pedidos de Proagro [Programa de Garantia da Atividade Agropecuária] é pela estiagem. mas por falta de manejo e matéria orgânica no solo, muitos deles com alta densidade e compactação. Precisamos refletir sobre o que estamos fazendo com o solo, esse bem precioso que pode ser melhorado a cada dia e assim devolver melhores produções.” VICENTE FIN – Chefe do escritório da Emater

Práticas conservacionistas

  • Adubação verde
  • Plantas de cobertura
  • Cultivo em curvas de nível
  • Sistema de plantio direto
  • Terraços

Sistema de plantio direto

Segundo a coordenadora do curso de Agronomia da Unisc, Priscila Pacheco Mariani, o sistema de plantio direto é muito positivo para recuperar e manter a qualidade do solo. Além do plantio na palhada, com o solo protegido, há o mínimo revolvimento de terra possível. Ela explica que o diferencial da prática, quando se utiliza o termo ‘sistema’, é que também abrange a rotação de culturas.

Diferente do que acontece na cultura do tabaco, com o cultivo de milho na estressafra, por exemplo, a rotação de culturas ocorre quando, a cada ano, uma cultura diferente ocupa a lavoura. “A cultura de inverno deste ano não pode ser a mesma do ano que vem. Com a rotação de culturas se busca introduzir diferentes tipos de raízes no solo e quebrar doenças”, explica a mestre em Ciência do Solo.

A professora comenta, entretanto, que, na cultura do tabaco, é mais difícil que isso aconteça. “Em grandes propriedades isso é mais fácil, pois é possível plantar todas as culturas em talhões e vai se intercalando, ao longo dos anos.”

 

 

Fonte: Agrolink

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