Milhões de toneladas de soja são perdidas por conta das doenças fúngicas radiculares. O uso intensivo da mecanização resulta na compactação do solo e disseminação de inóculos de fungos causadores de doenças nas plantas, problema que é intensificado pelo cultivo sucessivo de culturas como soja e milho. Além disso, solos desequilibrados, com baixo teor de matéria orgânica e baixa diversidade biológica facilitam o desenvolvimento de doenças radiculares. Assim, diversos profissionais adotam estratégias que fortalecem o microbioma do solo para a supressão das doenças.

A maioria dos patógenos causam doenças cujo inóculo aumenta ao longo dos ciclos de cultivos sucessivos com culturas suscetíveis, causando perdas de produtividade que crescem gradualmente. Conhecer as características do patógeno é fundamental para determinarmos o melhor bioinsumo para o controle, forma e momento de aplicação. Para isso, observe a tabela abaixo:

 

Características dos principais fungos causadores de doenças nas raízes da soja.
Patógeno Sintomas Estrutura de resistência Referências
Pythium spp. Tombamento em pré e pós emergência. Apodrecimento das sementes ou podridão aquosa na base do caule. oósporo Hartman et al. (1999)
Zitnick-Anderson; Nelson (2015);
Broders et al. (2007).
Macrophomina Podridão de carvão: mancha cinzenta na base do caule durante o enchimento de grãos, junto com epinastia e murcha das folhas, causando a morte precoce da planta. escleródio Negreiros et al. (2019);
Santos et al. (2020)
Fusarium solani species complex Infecção ocorre no início do desenvolvimento das plantas, mas os sintomas só ocorrem a partir do florescimento. Podridão vermelha no caule junto com o tombamento das plantas. Folha carijó. Pode ocorrer morte súbita da planta antes do enchimento de grãos. clamidósporo Roy et al. (1997); Scandiani et al. (2012); Aoki et al. (2005).
Fusarium oxysporum species complex Podridão de raízes e bloqueio do fluxo da seiva bruta, resultando na murcha das plantas, geralmente a partir do florescimento. clamidósporo Ellis et al. (2014);
Lanubile et al. (2016)
Rhizoctonia solani Lesão marrom deprimida no colo, podendo virar uma incisão anelar e causar o tombamento. escleródio Ayaji-Oyetunde; Bradley (2018).
Athelia rolfsii (Sclerotium rolfsii) Micélios brancos e escleródios marrons na base do caule, associados à murcha das plantas. A infecção pode ocorrer  em qualquer ciclo, mas os sintomas surgem principalmente após o florescimento. escleródio Iquebal et al. (2017).

Bioinsumos para o controle de doenças radiculares

O uso de diversos bioinsumos como agentes de biocontrole, bactérias promotoras de crescimento, biofertilizantes etc. serve como alternativa ao uso de fungicidas.

Agentes de biocontrole

São os microrganismos antagonistas, principalmente fungos e bactérias, que podem interferir na sobrevivência ou crescimento dos patógenos. As interações antagônicas que ocorrem são a antibiose, indução de resistência, parasitismo, predação, competição e promoção de crescimento.

Dentre os microrganismos mais estudados, está os fungos de solo do gênero Trichoderma, que atuam principalmente contra patógenos radiculares (como os causadores de podridão de raízes, tombamento de plantas e podridão da haste), além de promoverem o crescimento. Um dos principais casos de sucesso é o controle de Sclerotinia sclerotium (mofo-branco) por Trichoderma, que afeta drasticamente a capacidade de inóculo do patógeno, bem como de outros patógenos como Macrophomina, Rhizoctonia, Pythium, Phytophthora, Phoma etc.

Além do controle biológico, o Trichoderma é um ótimo competidor por nutrientes e oxigênio no solo, reduzindo a quantidade destes elementos e de espaço físico para os microrganismos causadores de doenças, e também promove a indução de resistência das plantas.

Fora o fungo citado acima, existem também bactérias que atuam como agentes de biocontrole, como as do gênero Bacillus, Rhizobium e Pseudomonas, sendo o gênero Bacillus o mais utilizado, podendo inibir o crescimento de diversos patógenos que causam podridão radicular ou damping-off na soja, além de melhorar a germinação e crescimento das plantas.

Biofertilizantes

Segundo a legislação brasileira, dentre os biofertilizantes estão os aminoácidos, extratos de algas e vegetais e as substâncias húmicas, ocorrendo efeitos benéficos que resultam da interação da matéria orgânica, microrganismos e raízes das plantas. Além do efeito nutricional, estes produtos também auxiliam no combate aos patógenos.

As substâncias húmicas melhoram o sistema radicular e a capacidade de retenção de água, além de aumentar a disponibilidade de nutrientes imóveis e a proteção contra estresse ambiental, melhorar a agregação, estrutura do solo e CTC do solo, diminuir a toxicidade por alumínio e metais pesados e estimular o crescimento e proteção das plantas. Além disso, as substâncias húmicas promovem a supressão de patógenos no solo através da antibiose, competição por substrato e locais de infecção na raiz, além de induzir a resistência sistêmica.

Os extratos de plantas como algas marinhas, água de sorgo e água de amora possuem compostos que estimulam o crescimento das plantas e podem suprimir microrganismos através de compostos bioativos, inibindo assim o crescimento e desenvolvimento de patógenos.

Bactérias promotoras de crescimento

As bactérias promotoras de crescimento podem controlar os patógenos de plantas através dos mecanismos:

  • Direto: ocorre através da produção de antibióticos, sideróforos, enzimas que comprometem as paredes celulares dos patógenos, competição por nutrientes e por locais de colonização, degradação dos fatores de patogenicidade (como toxinas e enzimas) etc.
  • Indireto: ocorre com a indução de resistência e promoção de crescimento da planta, através da produção de antibióticos, enzimas, toxinas, sideróforos etc.

Dentre as bactérias que promovem o crescimento, podemos citar os gêneros Rhizobium, Bradyrhizobium, Bacillus, Pseudomonas, Agrobacterium e Azospirillum.

Aplicando bioinsumos para o controle de doenças fúngicas

Os bioinsumos podem ser utilizados em combinação com outras práticas (tratamento de sementes, semeadura, aplicação de agrotóxicos compatíveis etc.). O tratamento de sementes tem se mostrado a forma mais satisfatória para garantir o estabelecimento do bioinsumo no controle de doenças radiculares. A germinação da semente libera exsudatos que auxiliam o microrganismo benéfico, que se desenvolve associado às raízes.

Quanto à aplicação de bioinsumos no tratamento de sementes, é fundamental avaliarmos a compatibilidade dos produtos químicos aplicados na semente com o bioinsumo. A semente de soja já é vendida ao produtor com o tratamento com fungicida, e, em caso de incompatibilidade com o bioinsumo, o produto pode ser aplicado separadamente via sulco de plantio.

O produtor deve ter muito cuidado com o armazenamento dos bioinsumos. Os produtos a base de organismos vivos devem ser armazenados em temperaturas amenas.

Anderson Wolf Machado – Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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Fonte: Agrolink

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