Durante o seu ciclo, uma planta pode ser atacada por diversos patógenos transmitidos pelo solo ou pelo ar, que comprometem diretamente a produtividade da cultura. As plantas desenvolveram diversos mecanismos de defesa, como a camada mais externa dos tecidos da planta, e os metabólitos secundários que realizam uma defesa química.
A interação entre as plantas e os patógenos é bastante complexa, e influenciada por diversos fatores ambientais como temperatura, umidade, luminosidade e nutrientes. Sobre os nutrientes, o nitrogênio, por conta do seu papel fundamental no crescimento, processos fisiológicos e metabólicos importantes (como a fotossíntese e respiração), influencia diretamente na resistência da planta a estresses bióticos e abióticos.
O nitrogênio e o controle de doenças
Tanto o teor de nitrogênio nas plantas quanto a forma do nutriente (amônio ou nitrato) promovem efeitos diferentes na resistência a doenças.
A adubação com nitrogênio pode aumentar a incidência de uma doença e reduzir a incidência em outras. O mesmo ocorre para a forma em que o nitrogênio é aplicado. O nitrogênio pode potencializar as respostas de defesa da planta, mas também pode aumentar os compostos ricos em nitrogênio que são usados pelos patógenos. Uma revisão avaliou diversos trabalhos sobre o tema, analisando o resultado de 132 artigos sobre o assunto:
Incidência de doenças | Forma do nitrogênio | ||
Não determinado | NH4+ | NO3– | |
Aumento da doença | 40 | 9 | 13 |
Diminuição da doença | 25 | 9 | 8 |
Nenhum efeito ou variável | 8 | 1 | 1 |
Algumas doenças aumentaram com a adubação / aumento da adubação nitrogenada: podridão-do-colmo no milho (Fusarium graminearum), queima da bainha do arroz, algumas doenças causadas por Aphanomyces, Phytophthora e Pythium, fitófora no tomate (Phytophthora parasiticaI), míldio, oídio, ferrugem foliar, podridão do caule, ferrugem dos cereais (Puccinia graminis), cercosporiose do milho (Cercospora zeae-maydis) e doenças da brusone do arroz.
Porém, outras doenças diminuíram com a adubação nitrogenada: antracnose (Colletotrichum graminicola), mancha-amarela em trigo (Pyrenophora trici-repentis), mofo cinzento, mancha foliar, podridão-do-colmo (Diplodia maydis e Colletotrichum graminicola) e algumas doenças causadas por Alternaria e Fusarium.
Porém, o que se observa é que alguns resultados são contraditórios com o que se encontra em outros estudos. Fica claro que existe necessidade de mais pesquisas para entender melhor estas relações e quais fatores estão envolvidos.
Como o nitrogênio influencia no controle de doenças?
Diversos estudos vêm tentando elucidar estas interações, muitos deles observacionais, mas com os mecanismos não totalmente compreendidos. A relação entre a incidência de doenças e as taxas de aplicação / formas de nitrogênio é bastante complexa. Os mecanismos patogênicos e as respostas de defesa das plantas são muito variáveis
Alguns padrões podem ser observados quanto à interação entre patógeno e planta. A aplicação de nitrogênio influencia na resistência das barreiras físicas das plantas reduzindo a espessura da camada cerosa e do teor de lignina, favorecendo a penetração por patógenos e ataque de insetos herbívoros. Além disso, estudos apontam que a adição de nitrogênio reduz a quantidade de algumas fitoalexinas importantes para a defesa contra patógenos.
Por outro lado o nitrogênio induz também uma defesa bioquímica na planta, aumentando a atividade das proteínas quitinase, glucanase e quitosanase, que atuam na defesa contra bactérias e fungos patogênicos. Além disso, também manipula a expressão gênica relacionada à defesa. Quanto aos hormônios vegetais, um estudo observou efeito negativo da adubação com nitrogênio no acúmulo de alguns hormônios que atuam na defesa das plantas.
Quanto às formas do nitrogênio, temos alguns exemplos: em um estudo, o amônio (NH4+) aumentou significativamente a quantidade de cera nas folhas de couve quando comparada ao nitrato (NO3–). Outro estudo observou que o amônio (NH4+) aumentou as atividades de quatro enzimas envolvidas na síntese de lignina. Quanto aos sistemas antioxidantes que atuam na defesa das plantas, a adubação com nitrato (NO3–) aumentou a atividade de enzimas antioxidantes. Porém, os sistemas antioxidantes parecem sensíveis à adubação com amônio (NH4+), o que pode estar relacionado ao dano oxidativo devido à “toxicidade do amônio”.
Além dos mecanismos acima, existem diversos outros estudos sobre como o nitrogênio atua em processos relacionados à defesa das plantas, alguns carecendo de mais estudos e evidências.
Referências:
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Fonte: Agrolink