Hormônio tem custo de produção 30% a 50% mais barato que o existente no mercado, extraído de animais. Hormônio obtido a partir do cultivo de células modificadas com DNA recombinante estimula ovulação de animais na inseminação artificial.
Aumentar a eficiência produtiva dos rebanhos induzindo a ovulação de bovinos e suínos, sem recorrer aos hormônios reprodutivos de extração animal. Esta é a proposta da Kimera, startup de biotecnologia ligada à Supera Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, sediada no campus da USP em Ribeirão Preto, que apresenta ao mercado o hormônio biotecnológico r-eCG. Desenvolvido em laboratório a partir de células modificadas por tecnologia do DNA recombinante, o hormônio tem custo de produção 30% a 50% mais barato que o existente no mercado, extraído do sangue de animais.
O pesquisador Camillo Del Cistia Andrade, doutor em genética pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, sócio-diretor e responsável técnico da Kimera, explica que a inseminação artificial é uma técnica em crescimento no Brasil. “Atualmente a inseminação artificial é uma ferramenta essencial para o aumento produtivo dos rebanhos e pecuaristas de todos os portes a utilizam para que um grande número de animais seja inseminado, mas que esbarra na limitação técnica da detecção do cio dos animais, que podem não apresentar sincronia, aumentando o tempo para a inseminação.”
Para resolver essa questão, surgiu a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), que utiliza hormônios reprodutivos para a indução do cio dos animais. “Esses hormônios fazem com que o ovário produza os óvulos na época da estação de monta com o objetivo de fazer a sincronização de lotes e da época de reprodução e, consequentemente, o nascimento dos bezerros, impactando em toda a cadeia de produção”, esclarece Andrade.
Os hormônios utilizados e disponíveis no mercado têm como princípio ativo o eCG (Gonadotrofina Coriônica equina), obtido a partir da extração em animais. “É um hormônio extraído do sangue de égua quando ela está prenhe, o que significa que para obtê-lo é necessário se ter um rebanho de éguas e constantemente prenhes”, esclarece.
Alternativa
Como alternativa ao método, a Kimera Biotecnologia desenvolveu o hormônio r-eCG, que tem o mesmo objetivo dos hormônios de extração animal, porém é produzido por meio do cultivo de células modificadas por tecnologia do DNA recombinante. “O hormônio desenvolvido pela Kimera é totalmente produzido em laboratório, sem a necessidade de extração de sangue das éguas”, explica Andrade, acrescentando que o hormônio desenvolvido pela Kimera passou por testes comparativos e os resultados são animadores.
A Kimera realizou testes para a avaliação da atividade em bovinos, utilizando ultrassom em vacas induzidas ao cio por intermédio da administração do hormônio eCG e do hormônio r-eCG. Os testes foram realizados em fêmeas da raça Nelore, paridas pelo menos uma vez, divididas em grupos homogêneos: 127 vacas receberam o hormônio eCG e 50, o hormônio desenvolvido pela Kimera. A inseminação artificial foi realizada após a análise por ultrassom e observação da ovulação de cada animal de ambos os grupos. “Os resultados apontaram taxa de prenhez de 50,2% para o grupo eCG, e de 48% para o r-eCG (Kimera). E na análise do crescimento folicular o resultado foi semelhante”, enfatiza o pesquisador.
“Os testes mostram que é possível reproduzir o hormônio em laboratório, utilizando um processo biotecnológico de cultivo. A principal vantagem do método novo é o custo de produção, aproximadamente entre 30% a 50% mais barato, além da questão ética que exclui a utilização de éguas prenhes no processo de produção.” O custo de produção de uma dose de 2 mililitros (2 ml) do hormônio é de aproximadamente R$ 2,00. A dose de 2 ml do hormônio existente no mercado é comercializada por preços que variam entre R$ 9,00 e R$ 10,00. Atualmente, a Kimera negocia a transferência da tecnologia de produção para empresas do setor de produtos veterinários, de modo a viabilizar o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), condição necessária para que o hormônio possa ser produzido em escala industrial e comercializado.
A Kimera, ligada à Supera Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, atua no desenvolvimento, melhoria e produção de biomoléculas recombinantes visando ao melhoramento em reprodução e saúde animal. O Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto é resultado de uma parceria entre a Fundação Instituto Polo Avançado da Saúde de Ribeirão Preto (Fipase), a USP, Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto e Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Instalado no campus da USP local, o parque abriga a Supera Incubadora de Empresas, o Supera Centro de Tecnologia, a associação do Arranjo Produtivo Local (APL) da Saúde, o Polo Industrial de Software (Piso), além do Supera Centro de Negócios. Ao todo, são 59 empresas instaladas no parque, sendo 40 delas na Supera Incubadora de Empresas de Base Tecnológica; 14 empreendimentos no Centro de Negócios; e cinco na aceleradora SEVNA Seed.
Fonte Jornal da USP