Há seis anos, o pedreiro Waldir Lopes Faustino mudou-se para a comunidade de Córrego do Sertão, localizada na zona rural do município de Cajuri, na Zona da Mata mineira. Durante a semana ele trabalha construindo e reformando casas em Viçosa, localizada na mesma região. Nos horários de folga, incluindo os fins de semana, sua atividade profissional é outra. Waldir é sócio do cinegrafista Henrique Simonini Rocha Gomes na produção de etanol no sítio Córrego do Sertão. Como a Agência Nacional do Petróleo (ANP) não permite que esse combustível seja comercializado, os dois trocam parte do volume produzido por serviços e produtos.
Graças ao escambo, já conseguiram fazer diversas benfeitorias na propriedade: reformaram os alambiques, instalaram uma coluna de retificação, trocaram cabos, postes e a parte hidráulica, recuperaram a nascente, construíram uma casa nova para o pedreiro, que além de sócio virou caseiro do lugar. Como Henrique e Waldir, dezenas de outros pequenos agricultores e produtores de cana na Zona da Mata mineira estão produzindo álcool combustível que usam em sua propriedade, distribuem gratuitamente para a família e usam como moeda de troca para adquirir bezerros, pagar pela hora de trabalho de tratores alugados, esterco e mão de obra.
O escambo é a alternativa encontrada para dar vazão ao combustível fabricado nas fazendas, já que os pequenos produtores rurais não conseguem atender todas as exigências da ANP para a comercialização do produto. “A produção em pequena escala é permitida pela agência reguladora, mas não pode ser vendida. Em Minas, eles podem fabricar 5 mil litros ao dia, e em São Paulo, 10 mil litros”, explica Juarez de Souza e Silva, professor titular do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que vem desenvolvendo tecnologia para a produção de álcool em microdestilarias há cerca de três décadas.
Custo Nesses locais, o custo de produção de cada litro de álcool é de R$ 0,40, no caso de o produtor ser também fabricante de cachaça artesanal, e de R$ 0,70 se ele produz somente o etanol. A matéria-prima usada para a fabricação desse combustível são a cabeça e a cauda da cana. A partir deles se produz um pré-destilado, considerado um subproduto na fabricação da aguardente. Com isso, criou-se um mercado real para esse resíduo, que de outro modo seria descartado pelos fabricantes de cachaça de qualidade ou usado para fabricar um produto de segunda linha que tem acidez elevada e contém aldeído, acetona, além de outras substâncias tóxicas. O litro do pré-destilado custa R$ 0,50 ou menos, conforme a concentração.
Fabricante de cachaça, rapadura e açúcar há 13 anos, o engenheiro-agrônomo e produtor rural Luiz Gonzaga Valente incluiu o álcool no seu mix de produção em 2009. Hoje, ele produz entre 80 litros e 100 litros diariamente. O combustível, que abastece os carros da família, também é trocado por cana-de-açúcar. “Estamos criando uma associação com cinco produtores de cachaça para aproveitar os resíduos. Se juntar cinco ou seis, na safra dá para produzir de 800 a 1.000 litros de resíduo, e isso dá 300 litros diários de álcool”, estima. De acordo com o deputado federal Jesus Rodrigues, pela ANP a comercialização do álcool hidratado produzido em microdestilarias é permitida quando feita a entes públicos, em associações e cooperativas, para consumo próprio e até para a exportação.
Fonte: www.em.com.br