O preparo do solo é definido como um conjunto de operações agrícolas que envolvem a mobilização mecânica da camada arável (onde se desenvolve a maior fração do sistema radicular das plantas), promovendo o seu rompimento em torrões (agregados) de tamanho adequado, assim como a mistura ou a incorporação de material vegetal ou não, encontrado na superfície. Sendo um dos mais importantes componentes do custo de produção, o preparo do solo está relacionado com a sustentabilidade da agricultura, pois influencia a maioria das propriedades físicas do solo, afeta os processos biológicos e condiciona o estabelecimento, o desenvolvimento e a produção das plantas cultivadas. Para aumentar a produção das plantas, os sistemas de preparo têm de facilitar a conservação do solo e da água, criar condições que estimulem o desenvolvimento do sistema radicular das culturas e manter níveis favoráveis de matéria orgânica no solo.

Não existe uma receita de preparo do solo que possa ser aplicada com sucesso em qualquer situação. Sistemas de preparo do solo apropriados são específicos para o solo, o clima e para a espécie cultivada, sendo as suas adaptações influenciadas por fatores biofísicos e sócio-econômicos.

O preparo do solo pode ser decisivo para a produtividade das plantas cultivadas, dependendo do grau de sensibilidade destas às condições de solo. Na prática, com o advento da moto-mecanização no Brasil, observou-se que antes da implantação da maioria das culturas, os agricultores, baseados em recomendações técnicas provenientes de regiões onde os níveis de precipitação pluvial são mais amenos daqueles observados na maioria das regiões agrícolas do Brasil, utilizam sistemas de preparo que se caracterizam pela intensa mobilização e desagregação da camada superficial do solo, predispondo-o à rápida degradação e à erosão. A partir da tomada de consciência de que o preparo convencional do solo estava acelerando o desgaste do solo, foram desenvolvidos novos sistemas de preparo que levam em conta as características do solo, a pluviosidade da região e a disponibilidade de máquinas e equipamentos nas propriedades rurais. Estes sistemas, denominados conservacionistas, apresentam no plantio direto, onde ocorre a menor mobilização de solo possível, a modalidade de manejo considerada de excelência.

Preparo primário

As operações mais profundas e grosseiras, como aração, escarificação e subsolagem, originam uma superfície irregular e são denominadas preparo primário. Essas operações visam primordialmente descompactar o solo para desfazer danos causados à sua estrutura pelo trânsito de máquinas e pela precipitação pluvial e incorporar materiais.

A aração consiste no corte, na elevação e na inversão de uma leiva de solo e sua utilização em áreas de culturas anuais encontra-se em declínio, devido ao elevado custo, à demanda de tempo por unidade de área e por razões conservacionistas. Ao mobilizar uma camada de solo, os principais efeitos da aração podem ser resumidos em: descompactação do solo, com o conseqüente aumento do volume de poros, mistura de componentes minerais e orgânicos do solo, controle de plantas daninhas, incorporação de restos de culturas, adubos verdes, corretivos e fertilizantes, permitindo a obtenção de um leito de semeadura, através de operações complementares denominadas preparo secundário.

A escarificação é uma operação de mobilização do solo até uma profundidade máxima de 30 cm, através de implementos de hastes, denominados escarificadores. As hastes dos escarificadores rompem a camada superficial do solo sem promover a inversão do perfil mobilizado, mantendo entre 50 e 75 % da cobertura vegetal existente sobre o solo antes do preparo. Para operar em condições de abundante cobertura vegetal (acima de 4 t/ha de matéria seca) devem ser equipados com discos de corte na frente das hastes, sob pena de ocasionar o arraste da palhada (embuchamento). Neste contexto, a sua vantagem é manter uma maior percentagem de cobertura do solo com restos culturais do que os arados, podendo constituir o preparo conservacionista, que será definido mais adiante. Como vantagem da escarificação, também podem ser apontadas a menor demanda de tempo e o menor consumo de combustível por unidade de área. Por outro lado, os equipamentos de hastes não controlam eficientemente plantas daninhas estabelecidas. Para o preparo de um leito de semeadura através de uma só operação com escarificador, há necessidade de utilizar complementos como cilindros ou rolos destorroadores/ niveladores.

A subsolagem, por sua vez, é uma operação que objetiva a descompactação do solo, quando houver uma camada compactada a profundidades que ultrapassam 30 cm. Os equipamentos utilizados também são compostos por hastes, porém são mais reforçados do que os escarificadores e apresentam maior espaçamento entre as ferramentas ativas. A subsolagem é uma operação que implica em elevado consumo de energia e somente se justifica em condições especiais, quando for detectada uma camada impeditiva ao fluxo de água e/ou ao desenvolvimento do sistema radicular das plantas, em profundidades maiores de 30 cm. A implantação de uma cultura após a subsolagem, via-de-regra requer uma ou mais operações complementares pois a superfície torna-se muito irregular.

Preparo secundário

As operações de preparo secundário são aquelas que tem a finalidade de nivelar e destorroar a camada mais superficial do solo (leito de semeadura), para oportunizar condições favoráveis à implantação e ao desenvolvimento inicial das culturas.

O principal objetivo do preparo de um leito de semeadura é a formação de uma camada de agregados, suficientemente finos e úmidos, cuja função é assegurar um bom contato com as sementes a fim de possibilitar uma rápida germinação das plantas cultivadas. Neste sentido, a qualidade desejável de um bom leito de semeadura varia consideravelmente e depende de muitos fatores relacionados com o solo, com a espécie cultivada e com o clima.

O preparo secundário geralmente é necessário para adequar a camada dos 10 a 15 cm superficiais do solo a uma semeadura uniforme em distribuição e profundidade. No entanto, estas operações são responsáveis pela reversão de grande parte dos efeitos positivos do preparo primário, uma vez que tornam a compactar o solo pelos efeitos dos implementos e do tráfego dos rodados dos tratores e reduzem a rugosidade superficial do solo, facilitando a ocorrência da erosão. Outro efeito importante do preparo secundário é o controle de plantas daninhas em germinação ou emergidas após as operações de preparo primário. Por estas razões, o preparo secundário deve ser realizado, sempre que possível, através de uma única operação e esta deve ocorrer o mais próximo possível da semeadura da cultura a ser conduzida na área.

As operações mais comumente utilizadas com a finalidade de realizar o preparo secundário são as gradagens com grades de discos ou grades de dentes. Também podem ser utilizados as enxadas rotativas e os cultivadores de campo, equipados com rolos destorroadores/niveladores. As grades de discos são os equipamentos predominantes e caracterizam-se pela facilidade de manejo, regulagens e manutenção, porém do ponto de vista conservacionista deixam a desejar, devido aos efeitos de nivelamento e destorroamento da camada superficial acompanhada pela drástica redução dos níveis de cobertura do solo com resíduos. Por sua vez, as enxadas rotativas são acionadas através da tomada de potência do trator, dispensando força de tração. Estas máquinas podem operar com facilidade em condições desfavoráveis ao desenvolvimento de tração (solos de várzeas), assim como em condições normais das demais áreas agrícolas. A gama de regulagens que estes equipamentos apresentam, possibilita obter diferentes distribuições do tamanho dos torrões em uma mesma condição de solo, permitindo adequar o leito de semeadura ás necessidades das culturas a serem implantadas. Os cultivadores de campo são equipamentos de hastes, promovem menor destorroamento do solo do que as grades, deixam a desejar no que diz respeito ao controle de plantas daninhas, porém incorporam menores percentagens da cobertura vegetal remanescente após o preparo primário, podendo até mesmo aumentar os níveis de cobertura do solo (desenterrando partes de plantas enterradas no preparo primário).

SISTEMAS DE PREPARO DO SOLO

Entende-se por sistema de preparo do solo um conjunto de operações realizadas segundo uma seqüência pré-estabelecida, buscando atender aos objetivos requeridos para cada situação. Convencionou-se denominar sistema de preparo convencional a todas as modalidades que utilizam operações de preparo primário com inversão das camadas do solo e conseqüente incorporação dos resíduos (sistemas de preparo convencional mantém menos de 5% da superfície do solo coberta com resíduos), através de arados ou de grades pesadas, seguidas por uma ou mais operações de preparo secundário.

Além de atentarem contra a conservação do solo, os sistemas de preparo convencional caracterizam-se por elevado consumo de energia e demanda de tempo por unidade de área. Em outras palavras, sistemas de preparo convencional do solo apresentam fortes inconvenientes do ponto de vista da sustentabilidade econômica e ambiental. Em virtude disto, vem sendo desenvolvidos sistemas de preparo do solo alternativos, buscando reduzir os custos de produção e proteger melhor o solo contra a erosão.

Sistemas de preparo do solo constituídos por um número menor de operações do que o sistema convencional e que mobilizam menor volume de solo são denominados de preparo mínimo ou preparo reduzido. Estes sistemas promovem maior rugosidade superficial e porosidade do solo do que o convencional, aumentando a capacidade de armazenamento de água e reduzindo os riscos da formação de uma crosta superficial após chuvas intensas, comuns nos períodos que coincidem com a semeadura das culturas.

Por outro lado, sistemas de preparo que mantenham os restos culturais, total ou parcialmente, sobre a superfície e que favoreçam a permanência da porosidade em valores elevados são adequados para a conservação do solo.

O preparo conservacionista tem sido definido como qualquer sistema que reduz as perdas de solo ou água, quando comparado com o preparo convencional. Isso é obtido por meio da presença de palha na superfície do solo e através da manutenção da rugosidade superficial em níveis elevados, ou até mesmo pela combinação de ambas as situações. Especialistas em Ciência do Solo estabeleceram que a diferença fundamental entre preparo convencional e preparo conservacionista é a percentagem da superfície do solo que permanece coberta com resíduos após a semeadura. Qualquer sistema de preparo e semeadura que permita a manutenção de, no mínimo, 30 % da superfície do solo coberta com resíduos após a implantação das culturas é considerado conservacionista. Cabe lembrar que 30 % da superfície do solo coberta com resíduos proporciona 60 % de redução nas perdas de solo por erosão. Verifica-se que, além das vantagens de economia de tempo e de energia que oportunizam, os equipamentos de hastes são aqueles que proporcionam as melhores condições para caracterizar um sistema de preparo conservacionista do solo.

Sistemas de manejo conservacionista do solo incluem culturas para cobertura do solo, adubação verde, rotação de culturas, manutenção de cobertura morta, preparo reduzido e plantio direto. Neste sentido, cabe enfatizar que a grande tendência para o manejo do solo em áreas destinadas á pastagens e á culturas produtoras de grãos, é o plantio direto. Os demais sistemas de preparo deverão ficar cada vez mais restritos á condições de clima, solo e culturas impeditivas ao plantio direto, cabendo-lhes, ainda, o papel de sistematização do terreno ou de prática “restauradora” de algumas situações eventualmente decorrentes de anos de manejo sem preparo.

Walter Boller
Universidade de Passo Fundo

* Este artigo foi publicado na edição número 05 da revista Cultivar Máquinas, de setembro/outubro de 2001.

Fonte: https://www.grupocultivar.com.br/

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