É o Brasil o maior produtor e consumidor mundial de feijão, sendo responsável por cerca de 16 % da produção mundial. Este grão figura ainda entre as cinco maiores culturas do país, perdendo apenas para soja, milho, trigo e arroz. Diferentemente de outras culturas, o feijão, em sua quase totalidade, é consumido internamente, não representando uma commodity de exportação significativa. A produção estimada para 2016 é da ordem 2,6 milhões de toneladas, enquanto prever-se um consumo em torno de 3,6 milhões de toneladas. Esta redução foi determinada pelo efeito El Ninõ, que provocou seca nos Estados de Minas Gerais e Bahia, e contrariamente excesso de chuvas no Estado do Paraná, culminando com a redução da produção, associado a falta de reajuste do preço mínimo do feijão no ano de 2015, por parte do governo federal, induzindo a migração de agricultores para outras culturas, sobretudo milho e soja, por se mostrarem mais atraentes. Este cenário estabelecido, provocou a redução da produção e com o consumo em crescimento, determinou a elevação natural do preço.
Item de consumo básico do brasileiro, com um consumo per capita da ordem de 17 kg/ano, a alta no preço do feijão passou a ser tema de preocupação em todo o país. O preço do feijão já ultrapassa o valor do café, fato histórico nunca acontecido. Dados do Instituto Brasileiro do Feijão (IBRAFE) mostram que é a primeira vez que a saca (60 kg) do produto chega a custar R$ 550,00 em alguns Estados, enquanto a de café estar em torno de R$ 480,00.
A cadeia produtiva do feijão apresenta importantes características: uma estrutura produtiva composta por lavouras com menos de 10 ha, que equivale a cerca de 75 % do total da área cultivada do país, tipicamente de base familiar, com forma de colheita predominantemente manual, pouco tecnificada, associada a baixa produtividade da lavoura, que é de aproximadamente 1000 kg por hectare; além do fato desse grão não poder ser armazenado por mais de dois meses, sob pena de perder o seu valor comercial.
A exploração deste produto e sua logística são fortemente influenciadas pelo gosto do consumidor, que, regionalmente, tem preferências claras por determinado tipo de feijão e também pelas diversas safras do produto, em que cada uma se concentra em uma região. A primeira safra ocorre no sul do país, a segunda no nordeste e a terceira no sudeste, especialmente em Minas Gerais. Tais aspectos causam intensa movimentação do produto no país, a qual ocorre, quase na sua totalidade, por via rodoviária, o que resulta na agregação de alto custo de transporte no valor final do produto.
Essas peculiaridades somadas, tornam o cultivo do feijão, diferentemente de outras culturas, um produto que oferece alto risco ao produtor, que além desses itens enunciados acima, não dispõem de estrutura adequada de estocagem, uma vez que quase sempre ela é feita em silos e armazéns destinados a outras culturas. Por fim, o produto demanda cuidados especiais, pois deve receber tratamento à base de deltamethrine, para evitar a ação de insetos que geram tantas perdas ao feijão.
Diante deste cenário configurado, o Presidente em exercício Michel Temer, anunciou como alternativa para barrar a escalada de preço do feijão, a importação do produto junto a países vizinhos, integrantes do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Bolívia e estuda a possibilidade de estender as importações, ao México e China. O objetivo é incentivar as grandes redes brasileiras a comprar no mercado esterno, já que não existiria a tarifa de importação de 10 %, com possibilidade de extensão para os dois outros países fora do bloco do Mercosul.
Fernando de Andrade
Engenheiro Agrônomo